segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ah, o Natal! (Parte II: Vó Margarida)

Eu não sei se eu contei aqui, mas se não, lá vai: Minha vó Margarida, mora numa casa geriátrica. Geriatria é a parte da medicina que cuida/pesquisa os idosos, logo minha vó mora numa casa de velhinhos (odeio a palavra asilo). Como meu avô foi piloto da Aeronáutica, minha avó tem o direito de estar nessa casa, que é paga, e que tem inúmeras vantagens em relação ao apartamento. Até porque, nessa casa, cada idoso tem o seu "apartamento", com seu banheiro exclusivo e cada um faz o seu horário. Além da piscina, da hidromassagem, da pista de corrida e de um lindo jardim, os idosos desfrutam de uma alimentação personalizada, quartos com tv e ar condicionado e o item mais luxuoso de todos - o cinema. Sim, tem um cinema dentro da casa de geriatria.
Bom, mas não foi pra fazer propaganda de lá que eu estou escrevendo, e sim para descrever o cenário para vocês poderem fazer uma imagem boa do lugar da história de hoje.
Dia 25 na hora do almoço chegamos para fazer a visita de Natal da Dona Margarida. Quando bateu o olho em nós 5, incluindo o namorado da minha irmã, minha vó desatou a chorar. E de saudade eu sei que não foi porque eu e minha mãe haviamos estado lá 5 dias antes para visitá-la e fazer companhia a ela. Acredito que aquele choro foi de alívio de estar reconhecendo as pessoas.
O engraçado é que no meio daquele chororô todo, a minha avó avistou meu pai, olhou fixamente e no mesmo minuto parou de chorar. Que estranho, não?
Não. Minha mãe me contou que minha avó sempre foi Maria-Farda. E meu pai, apesar de não ser militar, tem todo o biótipo de um comandante, sargento ou seja lá o nome que for. Meu pai tem cabelos bem curtos, não é magro, mas não está acima do peso, e ainda tem um ar de seriedade que engana qualquer desavisado.
Quando a minha mãe falou para minha avó que aquele ali já tinha dona, a minha vó desviou o olhar como quem diz: "Eu bem nem queria".
Após o almoço, fomos até o quarto dela e ficamos um tempo no sofá conversando... minha avó, com o agravo da doença, parou de falar. Ninguém nunca soube explicar o real motivo, mas é aquela história de sempre: os músculos vão se retraindo até que fica impossível fazê-los obedecer os comandos do cérebro.
Quando entregamos os presente à minha avó, ela olhou, olhou, parou e deu de ombros. Ela certamente preferiu o cachorrinho de pelúcia que meu tio deu pra ela na semana anterior. Fazer o que né?

Ah, o Natal! (Parte I: Vó Maí)

Natal é assim. Sempre uma caixinha de surpresa! Sempre alguém faz alguma coisa que é lembrada até o próximo Natal, quando outra pessoa se encarrega de levar o fardo por mais um ano.
Visualizem a cena: Árvore montada e iluminada, todos os presentes já arrumados no cantinho do lado da árvore, que esse ano foi tirada do jardim especialmente para a noite do dia 24, a comida que seria servida estava quase pronta, a mesa estava arrumada com três tipos de talher para cada pessoa.
Todos nós estávamos presentes. Minha avó Maí, seus 4 filhos e suas esposas e seus 7 netos.
Meu primo, que ainda está na adolescencia, comenta sobre o barco que ganhou para velejar. O nome que ele daria ao barco? Panicat.
Claro, não preciso dizer que os adultos estavam por fora dessa nova expressão. Na época deles, só existiam Chacretes e no máximo Guguzetes, que pra atualidade estavam até que bastante cobertas.
Esse assunto gerou curiosidade, e meu tio teve uma excelente (eu disse excelente?) ideia. Por que não colocamos no Youtube e plugamos para a TV passar o conteúdo do computador? Assim ninguém sairia da sala para descobrir o que seriam as tais Panicats.
E o vídeo começa a rolar... Muitas bundas e peitos começam a se sacudir numa tela de pelo menos 42 polegadas.
Se eu fiquei constrangida, vocês podem imaginar a minha avó? Quando eu olhei pra ela, daquele tamanhinho, com os cabelinhos brancos, estava um rosto endurecido de horror e constrangimento, ela olhava como se fosse um filme pornô (eu disse se??).
A sorte é que, como ela está esquecida, e meu primo tapou os olhos dela correndo, em 5 minutos ela voltou a sorrir e a curtir a ceia de natal e a família unida.
Vou confessar que nunca tinha visto a cara de brava da minha avó antes, e prefiro não ver de novo! Meu pai falou que há muitos anos a minha avó não fazia aquela fisionomia de mãe rigorosa.

Ah, o Natal...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Vó Maí

A minha avó Maí, como eu já disse é calminha. Calminha até demais, eu diria. Já meu pai acharia essa descrição injusta.
Minha avó nasceu para ser rainha, pena que não descobriram seu taleto na época certa.
Tentem imaginar: Nasce uma menina em 1930 em uma cidade do interior de Minas Gerais (sim, Juiz de Fora naquela época era apenas uma pequena cidade do interior), ainda menina foi estudar em um colégio feminino interno e católico. Tudo tinha sua hora, e a palmatória e o milho para ajoelhar estavam ali para lembrar às rebeldes quem mandava no colégio - as freiras.
Ingles, francês e latim faziam parte do curriculo obrigatório do colégio. Notas baixas? Só se alguma aluna não quisesse visitar os pais e os irmãos nos finais de semana e feriado.
Com essa educação, minha avó aprendeu a viver sem um closet cheio de roupas, estabeleceu inúmeras regras sobre o lixo e a higiene da casa, casou-se com um médico e todos da família diziam que ela era rigorosa demais com a educação dos filhos.
Agora vem a pergunta: "Mas com tantas regras, eu conseguia me divertir na casa dela?" mas na verdade a pergunta mais apropriada é "Você seguia alguma regra?" e eu te respondo "Nenhuma!!".

E foi sempre assim, pintavamos e bordavamos e a Vó Maí achava tudo uma gracinha.

Vó Margarida

Vó Margarida, quando contrariada, cosmumava ficar bem brava! Hoje não... hoje, quem não conhece, diz que ela é um amorzinho, ou um docinho de coco.
Mas nem sempre foi assim... Vó Margarida sempre foi a vó brava, a que era vó e fazia todas as nossas vontades, mas que era durona e se tivesse que brigar, brigava sem o menor pudor.
Aqui em casa nós sempre brincamos que a vó sacava a peixeira caso ela visse algo errado acontecendo. Mas esse gênio vem lá da época de Recife, onde ela morou até se casar com meu avô. Lá os sobrinhos e cunhados, chamavam as irmãs (não sei quantas são, mas são muitas) de Irmãs Metralhas.
Parecia realmente uma quadrilha. Quando estavam brigando entre si ainda estava bom, mas quando viravam (todas) o canhão para um terceiro... shiiii!!!! Corre que o bicho vai pegar!

Apesar dessa personalidade típica das mulheres fortes do Nordeste do país, bastava eu gritar "Vóóóó´" que ela saía correndo na minha direção com um sorriso estampado no rosto.

Introdução

Então, vamos começar?
Esse blog é para contar as histórias das minhas duas vózinhas... não sobre a vida delas. Vou escrever sobre acontecimentos, frases, esquecimentos dessas duas pessoas maravilhosas.
Minhas avós são como imãs. Uma é totalmente diferente da outra, acho que tirando o esquecimento e o fato de que as duas são viúvas, elas não tem nada em comum.
Vó Margarida é uma pernambucana de sotaque e gênio arretado teve cinco filhos, um deles, era minha mãe.
Vó Maí já é mais calminha. Nasceu em Juiz de Fora -Minas Gerais, enfermeira e teve 4 filhos, meu pai era um deles.
Mas deixa! Com o tempo eu vou apresentando as duas!
Vou tentar não misturar as histórias das duas avós, mas com certeza não será em ordem cronológica porque algumas histórias aconteceram há um certo tempo!

Beijos